Eu gosto de um poema de Alvaro de Campos, um dos muitos heteronimos de Fernando Pessoa, que começa assim:
" O dia deu em chuvoso, a manhã, contudo, esteve azul"(...)
Eu gosto desse poema, porque ele ressoa dentro de mim quando o dia não sai como o esperado, e eu fico chuvosa por dentro.
O dia ontem deu em chuvoso, apesar de ser um dia quente e ensolarado , choveu por dentro.
Eu chorei e rí ontem como é do meu feitio, o dia deu em chuvoso, e daí?
Acordei cedo, sai cedo, me organizei, não resmunguei de manhã, e estava de bom humor.
peguei o carro dirigi com cuidado e paciência e o destino logo ali na frente me deixou presa por 3 horas em um engarrafamento e toda uma vida de expectativas e planejamentos foi frustrada por 32 minutos de atraso.
Soa como se fosse o compromisso da vida. E foi, só não foi o maior compromisso da minha vida. Pelo acaso ou pelo destino eu atrasei exatos 32 minutos e a oportunidade se tornou de outro e não minha.
E após as lagrimas e o sentimento de frustração imensa que me assola, eu rí ,meio sem graça, dos acasos, porque isso tudo é só a vida e me comprometi a não remoer demais aquilo que acontece.
E depois eu ri, porque sou obrigada, por mim, a deixar passar.
Eu as vezes me canso desse cataclisma que eu crio ao meu redor quando eu cumpro a minha parte e o universo não cumpre a dele do meu acordo imaginário. Sabe?
O universo não cumpriu ? E porque ele haveria de se curvar a minha orquestra?
Me cansa e me pesa esse fardo gigante de interpretar como erros colossais, aquilo que são escolhas e que independem de mim. E que Fica a cabo de tantas outras coisas.
Eu poderia ter saido de véspera... eu poderia ter saido duas horas antes, eu poderia ter dormido dentro do carro. Eu poderia... O que eu poderia fazer para que o universo cumprisse com aquilo que eu gostaria que fosse? Aonde foi que perdi nesse labirinto de sucessos e fracassos que fizeram eu chegar até aqui?
" O dia deu em chuvoso, a manhã contudo esteve azul "(...)
E hoje eu só quero dormir, apesar da ansia, de que a musica mude, e eu entenda os compassos da dança do fracassado, sem chorar demais por aquilo que já passou.
E sem a pressa de entender o que o futuro me reserva.
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