Dolorida e com a necessidade de uma xícara de café.
Levantei em silêncio, fiz meu café tentando despertar mesmo com o vento frio da manhã.
Me deparei com meu armário e meu vestido de casamento.
Objetos são assim, eles ficam em repouso enquanto ninguém quiser tirar eles de lá .
Diferente da vida, que te obrigada a expandir em todas as direções quer vc queira ou não.
O casamento acabou, e o vestido estava lá.
Engraçado , queria estar mto depressiva com o fim do casamento.
Mas na verdade tava triste com o vestido lindo pouco usado. Guardado no armário , sozinho na sua falta de utilidade enquanto constantemente as outras roupas são escolhidas.
Pensei em experimentar de novo, usar como saia, dar uma chance de dar vida nova pra ele.
Formas de "desestigmatizar " a ideia de que ele só poderia ser feliz se houvesse um casamento no armário.
Experimentei com outras cores envolvidas. Outros estilos e ao olhar no espelho me deparei com meus olhos castanhos, que são a parte de mim que eu mais gosto.
Eles geralmente espelham tanta verdade e luz quando eu tô feliz.
Encontrei com a verdade no espelho e sorri.
Não estou tão velha e feia como tenho me visto.
Culpa dessa sociedade que esquece que envelhecer , viver, morrer , são etapas inevitáveis. E que todos passarão por ela. Não existem formas de ignorar a vida.
Tirei o vestido.
Coloquei no armário de novo, agora com a sensação de "quando eu vou usar ele de novo".
Colocando nele um propósito maior que um casamento, e sim, um de " se sentir bonita e elegante".
Toquei as roupas macias. Confortavelmente geladas ao toque.
Sentei na parte interna do armário. E me senti bem no meio da montanha de roupas. Quente. Acolhida .
Fui me afundando cada vez pra dentro daquela escuridão macia, perfumada e aconchegante.
Os tecidos encostando na pele, como se fossem cafunés de mãe.
E entendi os meus gatos. E talvez todos eles.
Dentro do armário, escondida entre as roupas macias, me senti abrigada.
Protegida e invisível.
Ninguém vai me ver aqui, pensei como uma criança.
Talvez os gatos.
Talvez apesar de querer me sentir linda e vista , eu talvez só queria ficar dentro do armário quentinho e macio por enquanto.
Tal qual uma fera, que após uma caçada exaustiva e trabalhosa, resolve se devolver ao seu covil e lamber suas feridas.
Eventualmente eu saio do armário e vou tomar um banho, respirar o ar e seguir com a vida.
Mas que delícia dentre todas as coisas, ter o conforto se estar onde eu quiser.
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